Supercampeã no boxe, Bia Ferreira é a força nordestina em modalidade ainda dominada por homens

Da influência familiar à rápida ascensão que a levou a um patamar inédito no boxe feminino brasileiro – a final olímpica – Beatriz Ferreira está abrindo caminhos para que outras mulheres se inspirem em sua trajetória e ocupem espaços onde as barreiras ainda persistem. Em uma entrevista à coluna, a pugilista discutiu sobre sua carreira, conquistas, desafios e a transição para o boxe profissional.

Contrariando a máxima de “em time que está ganhando não se mexe”, Bia decidiu buscar novos desafios em um dos momentos mais vitoriosos de sua carreira. Medalhista de prata nas Olimpíadas do ano passado e no Mundial deste ano, ela está em processo de transição para o boxe profissional, planejando estrear em outubro. Sobre os novos desafios, ela destacou: “Acho que eu precisava dessa adrenalina nova […] Não que eu não tenha no olímpico, mas é um empurrãozinho a mais, então estou muito animada. Me preparando ao máximo para poder representar bem, assim como eu faço no olímpico, agora também fazer no profissional. Representar o nosso país, as meninas do nosso Brasil e mostrando que o nosso boxe é forte.”

Desafios não foram escassos ao longo da carreira de Bia, que, aos 29 anos, acumula títulos e medalhas. Apesar do contato com o boxe desde a infância, influenciada pelo pai, o campeão brasileiro Raimundo Ferreira, conhecido como Sergipe, a carreira oficial de Beatriz começou apenas em 2014, no Campeonato Brasileiro da modalidade. No entanto, foi suspensa por dois anos devido à sua participação no muay thai, proibido pelas regras da Associação Internacional de Boxe Amador.

A virada na carreira veio após ser reserva olímpica de Adriana Araújo na Rio 2016, proporcionando a Bia uma experiência única nos Jogos e impulsionando sua carreira. Os títulos pan-americano e mundial seguiram-se.

Embora o ouro olímpico não tenha sido alcançado em Tóquio, a medalha de prata é altamente valorizada, e Bia continua sua busca pelo lugar mais alto do pódio até Paris 2024.

Com a proximidade da estreia no boxe profissional, a rotina de treinos de Bia tornou-se ainda mais intensa: “Tenho dois períodos de treino. De manhã, costuma ser físico, e à tarde, o treino de luta, onde tenho feito minha preparação separada com foco para o profissional. Para o olímpico, treino junto com a seleção olímpica permanente do Brasil.”

Quanto ao desafio de ser mulher em um ambiente predominantemente masculino, Bia reconhece a evolução: “O boxe é visto por muitos como um esporte masculino, por envolver luta. Mas acredito que as mulheres vêm mostrando força e ganhando seu espaço. Nós mulheres temos conquistado grandes resultados e estamos mostrando que todas nós podemos estar no boxe e competir de igual para igual.”

Nordestina raiz, Bia mantém uma forte conexão com sua cidade natal, Salvador, enfatizando: “Tenho um carinho enorme pelo Nordeste.”

Consciente de seu papel como referência para muitas meninas que aspiram seguir o mesmo caminho, Bia destaca a importância do treino constante, da disciplina e do foco para alcançar os sonhos. Sua história exemplifica a importância da representatividade na vida de muitas pessoas, seja no boxe ou em qualquer outro campo.